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DOS SANTOS DOMINGOS

Os domingos sempre foram bons, na janela a via passar rumo à igreja.

- Durante a semana acordava tarde, ainda na cama não dava para vê-la - acho que devia ter um emprego. Nestes dias ela sumia, por isso achava que era empregada em algum lugar - desconfiava.

- Mas havia os domingos, cedo na janela a veria passar.

Tentou por alguns dias acordar cedo e ficar observando - ia valer o sacrifício. Em vão perdeu as horas, questionou se não era tarde, se já não teria passado.

Aos domingos, ela não o via na janela, com os olhos nas mãos, pronto para um aceno, seguia rumo à igreja, nada mais importava.

Decidiu apostar nos dias da semana, talvez sua atenção se desviasse - olho no olho o encontraria. Resolveu antes de o sol nascer se pôr de pé, sentinela do desejo. Os dias e as semanas se passaram, na janela a rua sempre deserta.

Num domingo foi à igreja - do último banco percorreu os cantos do salão, todos lotados, por mais que a procurasse era difícil achá-la entre tantas que ali estavam em busca de bênçãos - da remissão. Esperou até aqui tudo acabar. Em grupos saíram todos. Ficou lá até o último e não a viu; ao final a solidão o fez voltar outras vezes, refém daquele desejo.

No claustro do templo sabia que podia encontrá-la num domingo desses - azul e casta, onde se punha de pé sonhando. Na janela, que ela me encontre, unidos pelos santos domingos.

Os dias da semana são sempre sujos, as mulheres não valem a pena nestes dias.

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© 2023 por Frederico Spencer.

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