PARA O ALMOÇO
- FREDERICO SPENCER

- 25 de nov. de 2019
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Pingos de sangue sobre a pia. Na faca, estilhaços da carne e o raio de sol que cinge o alumínio da manhã.
Nesta manhã, o silêncio e uma dúvida: o que fazer daquele corpo que agora em pedaços deve ser guardado urgentemente no gelo antes que apodreça e o seu fedor exale pela casa, pelos corredores e o edifício enfim acorde do seu sono?
Pensou em fatiá-lo, assim organizaria melhor seu transporte para onde quer que fosse, arrumou sacos e bandejas.
Podia também enfeitá-lo, com o gabinete da geladeira aberto buscou legumes e verduras; o sal no armário, para protegê-lo da desintegração já que o suor não escorreria mais por sua pele.
Dúvidas sobre água ou óleo para ungir; enquanto o acariciava pensava: talvez este fosse o único carinho que recebera por toda sua vida.
Deu leves batidas no lombo - uma última esperança de ressuscitação - por segundos acreditou nisto.
Enquanto ele remexia naquele corpo lembrou dos membros da família - o que servir para o almoço naquele domingo? Um a um começavam a chegar.






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