BOITEMPO
- FREDERICO SPENCER

- 15 de jun. de 2022
- 1 min de leitura
O livro Boitempo de Carlos Drummond de Andrade é um livro que traz as recordações da infância do poeta vivida na área rural de Belo Horizonte. Neste livro a roça está representada pelo boi, um animal que rumina sua própria paciência; metáfora que simboliza a própria condição do poeta – que não consegui digerir as recordações deste tempo.
O boi também traz a ideia deste tempo agrário – da duração das coisas que cria no ser a ideia passado, presente e futuro - onde teima não passar, que põe em xeque as interrogações de um ser que pensa e questiona sua condição humana.
Pensando nesta condição do poeta que se multiplica em todos nós, segue este poema onde troco o boi pela linguagem, qual bigorna, moldam todos os seres:

"BOITEMPO"
A Carlos Drummond de Andrade
O vento lambendo o canavial,
inventa o prumo da planta, de suas espigas,
o desenho fatal;
Qual ventania, varrendo o tempo:
- “Oh menino, para onde vais? Amorosamente:
o pai, a mãe:
- “Preste atenção caba!” – Essas vozes:
tão gentis, de vento, ecoam,
qual a palha resumida do eito
que nunca cessam e se perdem no tempo:
nas noites também nos dias - seu intento;
no algodão do pijama,
essas vozes brandas:
a martelar, seus ecos, sempre;
qual o fel dos anjos,
esse eterno
desejar, de roda viva roda
sem cessar. O tempo
com estas vozes esgarçadas,
moldam todas as vidas:
na surdina, as vontades
redimidas no velho lembrar:
um fantasma carregado de memórias.






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