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BOITEMPO


O livro Boitempo de Carlos Drummond de Andrade é um livro que traz as recordações da infância do poeta vivida na área rural de Belo Horizonte. Neste livro a roça está representada pelo boi, um animal que rumina sua própria paciência; metáfora que simboliza a própria condição do poeta – que não consegui digerir as recordações deste tempo.

O boi também traz a ideia deste tempo agrário – da duração das coisas que cria no ser a ideia passado, presente e futuro - onde teima não passar, que põe em xeque as interrogações de um ser que pensa e questiona sua condição humana.

Pensando nesta condição do poeta que se multiplica em todos nós, segue este poema onde troco o boi pela linguagem, qual bigorna, moldam todos os seres:



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"BOITEMPO"

A Carlos Drummond de Andrade


O vento lambendo o canavial,

inventa o prumo da planta, de suas espigas,

o desenho fatal;

Qual ventania, varrendo o tempo:

- “Oh menino, para onde vais? Amorosamente:

o pai, a mãe:

- “Preste atenção caba!” – Essas vozes:

tão gentis, de vento, ecoam,

qual a palha resumida do eito

que nunca cessam e se perdem no tempo:

nas noites também nos dias - seu intento;

no algodão do pijama,

essas vozes brandas:

a martelar, seus ecos, sempre;

qual o fel dos anjos,

esse eterno

desejar, de roda viva roda

sem cessar. O tempo

com estas vozes esgarçadas,

moldam todas as vidas:

na surdina, as vontades

redimidas no velho lembrar:

um fantasma carregado de memórias.

 
 
 

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© 2023 por Frederico Spencer.

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