UM PASSADO BATENDO À PORTA
- FREDERICO SPENCER

- 21 de nov. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 7 de out. de 2022
A casa onde morava, numa transversal da rua Imperial, ainda menino, tinha um quintal e um muro e este fazia fronteira com a hoje conhecida comunidade do “Coque”. Lá vivi um bom pedaço de minha infância, aquática por natureza. Do seu lado esquerdo, o Rio Capibaribe e uma boa parte de mangue que margeava a parte da frente da casa.
Nos anos de 1960 assisti suas águas invadirem sala, quarto e cozinha, a saída era o sótão cheio de livros e discos do pai: a máquina de escrever e as fotos das beldades do cinema. Bateu a saudade, procurei voltar a este lugar - os muros do metrô não deixaram, sobrou este poema:
A VILA BRASIL, ERA SÓ UM DESTINO
Era de ferro e pedra, a fronteira:
os trilhos e o vapor da máquina
fumegando destinos
pela encosta, bem desenhada:
lombo alto de matemático
traço fino, que seguia
até onde se perdia o horizonte, miúdo
do menino, o lado de cá:
a maré dos xiés
e as gentes-peixe:
dentro do rio, o Capibaribe:
a lama de suas carnes,
em suas redes: olhos tristes de vidro
e escamas nos flandres da panela:
ressequidos alvéolos
no sal, o mar, gigante,
ressonando suas ondas distante.
Também a casa e o sótão:
tecendo letras para o jornal, o pai,
a mãe, a avó, os irmãos e o quintal;
o muro e os outros meninos
pintados no carvão duro dos dias,
o “Coque”, mineral.
No lado de lá: a rua Imperial, as praças
o comércio de “seu Agápito” – o giro,
o motor e as bombas:
“seu Abidoral”, coberto de graxa
e de fumaça, já bem mufino:
“está pronto seu alado triciclo”, dizia,
menino: vapor de máquina de tão fino,
que és, voo de pássaro, o teu destino
até onde quiseres ir, irás. Nordestino.






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