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UM PASSADO BATENDO À PORTA

Atualizado: 7 de out. de 2022

A casa onde morava, numa transversal da rua Imperial, ainda menino, tinha um quintal e um muro e este fazia fronteira com a hoje conhecida comunidade do “Coque”. Lá vivi um bom pedaço de minha infância, aquática por natureza. Do seu lado esquerdo, o Rio Capibaribe e uma boa parte de mangue que margeava a parte da frente da casa.

Nos anos de 1960 assisti suas águas invadirem sala, quarto e cozinha, a saída era o sótão cheio de livros e discos do pai: a máquina de escrever e as fotos das beldades do cinema. Bateu a saudade, procurei voltar a este lugar - os muros do metrô não deixaram, sobrou este poema:



A VILA BRASIL, ERA SÓ UM DESTINO


Era de ferro e pedra, a fronteira:

os trilhos e o vapor da máquina

fumegando destinos

pela encosta, bem desenhada:

lombo alto de matemático

traço fino, que seguia

até onde se perdia o horizonte, miúdo

do menino, o lado de cá:


a maré dos xiés

e as gentes-peixe:

dentro do rio, o Capibaribe:

a lama de suas carnes,

em suas redes: olhos tristes de vidro

e escamas nos flandres da panela:

ressequidos alvéolos

no sal, o mar, gigante,

ressonando suas ondas distante.


Também a casa e o sótão:

tecendo letras para o jornal, o pai,

a mãe, a avó, os irmãos e o quintal;

o muro e os outros meninos

pintados no carvão duro dos dias,

o “Coque”, mineral.


No lado de lá: a rua Imperial, as praças

o comércio de “seu Agápito” – o giro,

o motor e as bombas:

“seu Abidoral”, coberto de graxa

e de fumaça, já bem mufino:

“está pronto seu alado triciclo”, dizia,

menino: vapor de máquina de tão fino,

que és, voo de pássaro, o teu destino

até onde quiseres ir, irás. Nordestino.




 
 
 

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© 2023 por Frederico Spencer.

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